sexta-feira, 13 de março de 2015

"Senti uma tristeza. Uma vontade de chorar... E tinha, de fato, lágrimas nos olhos. Enxerguei-me batendo com a cabeça na parede e vi sangue... Parei.
Aquela não era eu. Eu tivera um dia feliz. Eu estava bem. De onde vinha aquilo? Notei que naquele momento em que batia com a cabeça na parede, eu não estava mais no meu corpo, eu não me percebia, não percebia o ambiente, nem o chão sob os meus pés. Eu estava apenas em minha mente, tomada por naquela paisagem que havia lá fora.
Tentei entender de onde vinha a tristeza. Eu estava só olhando pela janela. A paisagem... era tão bonita... e triste. Por que o belo às vezes é tão triste? Acho que eu acabei absorvendo aquela tristeza e fui me dissolvendo na paisagem. Senti vontade de chorar. E alguma coisa em mim deve ter achado que eu precisava de uma razão pra isso e buscou um sentimento de miséria, infelicidade, fracasso
e solidão. Eu não estava mais em mim. E para aquele espectro fracassado naquela paisagem triste, veio a única alternativa de infligir mal a si mesmo e dar com a cabeça na parede até o sangue escorrer. Era só uma imagem para completar a cena (eu sempre fui meio dramática, mas isso nem sempre é inofensivo...).
Eu não me perdi. Não desta vez.”

Achei bonito o texto. A tristeza cria a beleza, já dizia o poeta. A tristeza sempre me ajudou a escrever. Eu raramente escrevo quando estou bem, ocupada e feliz. Minha mãe dizia que “cabeça vazia é a oficina do diabo”. Talvez, ela tenha razão. Basta eu me afastar dos afazeres, perceber a solidão, contemplar ao redor e a tristeza se instala e traz toda sorte de pensamentos pra justificar sua presença. Algumas vezes, resulta em beleza, mas outras vezes eu me perco na tristeza e nos pensamentos que surgem com ela.
É muito fácil eu falar da tristeza agora, olhando-a à distância. E tiro proveito disso e gosto do que ela produz. Mas, temo que o leitor pense que eu crio a tristeza, as cenas, os dramas, que tenho controle sobre eles, que quero sentir-me assim, que escolho, deliberadamente, porque acho belo, que fantasio. Confesso: eu também duvido de mim mesma, às vezes.
Mas, a verdade é que eu não escolho ser tomada por uma tristeza quando observo uma paisagem bonita e, de fato, muitas vezes, sou tomada de alegria e bem estar. Eu gosto de contemplar coisas simples e tirar prazer desses momentos, que são poucos. Não vou me privar disso. Aliás, eu nem planejo esses momentos, eles só acontecem.
O problema é que não é sempre que eu tenho controle sobre esses momentos. Meu sofrimento não é uma ilusão. Ninguém acredita quando eu conto que tenho acessos de raiva, acho que só meus irmãos e meus pais já viram esse meu lado. Se eu passo um dia deprimida – o que não acontece mais há muito tempo – na maioria das vezes, fica claro que os motivos não fazem sentido quando eu finalmente consigo falar deles pra alguém e ouvir minha própria voz. Frequentemente, as palavras faladas me resgatam do labirinto em que me meto em meus pensamentos.
Eu não domino meus pensamentos. Não sei lidar com minhas emoções. E reajo de forma desproporcional, e às vezes inadequada, aos acontecimentos da vida.

Uma boa metáfora é o mar. Os fatos são como a paisagem que se apresenta. O mar é lindo. Eu me sinto atraída pelo mar e corro em sua direção. As emoções são como o cheiro, o frescor da água, submergir, sentir-me solta, boiando. E os pensamentos são como as ondas. Algumas vezes, o mar está calmo e as ondas são uma delícia, a gente brinca com elas, “pega carona”, mergulha por baixo. Outras vezes, o mar está agitado, a gente tenta brincar, mas engole água e acaba se cansando. Cedo ou tarde, temos que enfrentar as ondas e nos afastarmos. Mas, tem vezes que a arrebentação é forte
demais e a gente só percebe depois que está lá no meio. A correnteza é forte, o intervalo entre as ondas é pequeno, fica difícil voltar para a praia... Até agora, eu tenho conseguido voltar.

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