Há anos atrás, ela dizia, orgulhosa de seus objetivos: "Não quero uma carreira que me dê dinheiro, não quero uma carreira que me dê fama. Tudo o que eu quero é fazer o que gosto." E lá foi a menina procurando se encontrar.
Depois de muita insatisfação, ela achou o seu lugar. Percebeu que sua paixão era investigar, estudar, analisar, conhecer. "Eu quero ser pesquisadora! Quero ser paga pra estudar."
Já com 26 anos, movida pelo desejo de fazer algo que ama e, assim, não ter que trabalhar um só dia em sua vida, ela saiu em busca do seu sonhou. O caminho era promissor, cheio de verde, de vida, de movimento e gente pra todo lado! No entanto, a caminhada foi longa e bem mais difícil do que ela esperava. Ela andou por 6 longos anos. Embora estivesse fazendo algo que gostasse, as dificuldades encontradas pelo caminho, o esforço, as cobranças lhe renderam muitas crises de gastrite, dores de barriga, momentos de desesperança e transtornos emocionais. Muitas pessoas foram ficando pelo caminho, mas ela persistiu. Foi quando avistou um cume. Parecia que ela tinha, finalmente, chegado. Mas, lá do alto, ela avistou outro cume, mais alto e percebeu que ainda faltava mais.
Não se tratava de orgulho, de querer ser mais que os outros. A questão era bem mais simples do que isso. A tarefa que ela gostaria de desempenhar não poderia ser realizada nesta altitude. Era preciso subir mais.
Ela acampou neste platô e descansou por 2 anos. O primeiro ano foi feliz, de descanso merecido. Contemplou a natureza, o verde, as montanhas ao redor. Como eram lindas as montanhas ao redor! Deu muitas risadas. Mas o segundo ano foi de frustração por se ver parada no pico intermediário, apenas contemplando de longe seu alvo principal. Finalmente, ela levantou acampamento e seguiu em frente.
A segunda etapa da viagem durou 4 anos. O trabalho não foi tão duro, não havia tanta cobrança, mas era frio, solitário e, a certa altura, desesperador! Ela enlouqueceu completamente. Sentia medo, tinha amnésias, caiu em depressão e, por fim, foi diagnosticada com transtorno bipolar. Embora se sentisse sozinha, ela recebeu muita ajuda emocional durante esses 4 anos, sem a qual ela não teria conseguido.
Enfim, ela se aproximava no ápice! Mas, que era aquilo? À medida que ela chegava percebeu que os últimos metros eram em um terreno muito íngreme e o topo, embora bastante vasto, estava repleto de gente. E não só o topo, havia muita gente pendurada, procurando um espaço, tentando subir. Ela só queria um cantinho, ali, bem onde ela chegou. E, de fato, avistou algumas vagas e alguns amigos. Lá se foi mais um ano de escalada. Mas, subir estava difícil demais. Enquanto alguns lhe estendiam a mão, outros a empurravam com os pés enquanto mais alguém conseguia subir na sua frente. Aos 39 anos, depois de tanto andar, ela só conseguia se sentir cansada.
Cansada. Sim. Ela estava cansada. E só conseguia pensar nisso, no quão cansada estava. Ela só queria ter uma profissão que amasse para desfrutar de uma vida feliz e livre de estresse (como Thomas Edson - "I never did a day's work in my life. It was all fun.") Mas, em busca desse objetivo ela gastou 14 anos se esforçando, qualificando-se, cobrando-se e sempre se sentindo inadequada, despreparada, insatisfeita... Durante 14 anos a vida passou por ela. Agora, às vésperas dos seus 40 anos, ela se vê sem emprego, sem dinheiro, sem perspectivas. Voltar não é uma opção. Resta continuar comendo as migalhas na base do pico pra se manter ali, próxima, e ter forças pra continuar tentando escalar e obter um lugar mais confortável onde (quem sabe?) terá um pouco de sol, conforto e satisfação.
Morreu a idealista. Hoje, sua visão é outra: "Profissão você não precisa amar. Faça algo que goste e que lhe dê dinheiro. Não precisa ser muito. Apenas o suficiente pra viajar e ser feliz. Você não precisa amar seu trabalho pra ser feliz, ame a vida!
"Life is what happens to you when you are busy making other plans." (John Lennon)
terça-feira, 30 de maio de 2017
segunda-feira, 15 de maio de 2017
Mais um "dia das mães" sem minha mãe
Este final de semana eu assisti o filme "Sete minutos depois da meia-noite" (A monster calls) e o filme transformou em texto sentimentos que há muito tempo eu gostaria de expressar:
Quando uma mulher se torna mãe, como ela mesma diz, seus filhos se tornam sua vida. Ela já não se importa consigo mesma.
Eles apertam "sua barrigona" ou sua "bunda mole" sem se importarem em ofendê-la. Eles jamais a vêem como mulher. Ela é mãe. Deixou de ser mulher que quer se sentir bonita, atraente e desejada. Seu marido não recebe mais a mesma atenção e carinho. Agora, ela demanda dele as tarefas de pai.
Na adolescência, ela prova do mais amargo fel. Eles aprenderam que "a função dela" é cuidar do seu bem-estar e seu amor é incondicional. Rebeldes, eles levantam a voz, discutem, batem portas ou não a obedecem quando são contrariados. Ela se sente sozinha, culpada, como se toda sua dedicação tivesse sido vã.
Quando adultos, talvez ela encontre um pouco de amizade e, se eles já saíram de casa, talvez consiga pensar um pouco em si mesma. Mas, ela sempre será mãe. Eles vão aparecer sem avisar, vão sempre assumir que ela prefere passar qualquer feriado com eles do que numa viagem ou com amigos. Eles nunca duvidam disso, nunca perguntam. E ela estará sempre preocupada com o bem estar "das crianças".
E mesmo no leito de morte, uma mãe não pode morrer em paz, porque lhe dói mais pensar nos filhos que ficam, sofrendo sua ausência, do que na própria vida que se lhe esvai do corpo. Afinal, sua vida são eles.
Quando uma mulher se torna mãe, como ela mesma diz, seus filhos se tornam sua vida. Ela já não se importa consigo mesma.
Eles apertam "sua barrigona" ou sua "bunda mole" sem se importarem em ofendê-la. Eles jamais a vêem como mulher. Ela é mãe. Deixou de ser mulher que quer se sentir bonita, atraente e desejada. Seu marido não recebe mais a mesma atenção e carinho. Agora, ela demanda dele as tarefas de pai.
Na adolescência, ela prova do mais amargo fel. Eles aprenderam que "a função dela" é cuidar do seu bem-estar e seu amor é incondicional. Rebeldes, eles levantam a voz, discutem, batem portas ou não a obedecem quando são contrariados. Ela se sente sozinha, culpada, como se toda sua dedicação tivesse sido vã.
Quando adultos, talvez ela encontre um pouco de amizade e, se eles já saíram de casa, talvez consiga pensar um pouco em si mesma. Mas, ela sempre será mãe. Eles vão aparecer sem avisar, vão sempre assumir que ela prefere passar qualquer feriado com eles do que numa viagem ou com amigos. Eles nunca duvidam disso, nunca perguntam. E ela estará sempre preocupada com o bem estar "das crianças".
E mesmo no leito de morte, uma mãe não pode morrer em paz, porque lhe dói mais pensar nos filhos que ficam, sofrendo sua ausência, do que na própria vida que se lhe esvai do corpo. Afinal, sua vida são eles.
quarta-feira, 3 de maio de 2017
Solidão
Não ter com quem conversar. Ninguém.
Não poder confiar em ninguém.
Não há quem não julgue. Não há quem possa me dar uma opinião, me sugerir algo de forma isenta, sem interesse próprio. O mundo é assim.
Eu sei que nem todas as mães são como descreverei, mas a minha era. E foi. E não existe mais.
Minha mãe era a única pessoa no mundo que me conhecia bem. Melhor do que eu mesma (era assim que eu pensava).
Se ela dizia que eu podia, eu acreditava. E conseguia.
Porque eu acreditava mais no que ela dizia sobre mim do que em mim, mesma.
E as crenças dela sobre mim eram as mais positivas, brilhantes e melhores possíveis!
Eu confiava nela. Ela nunca buscava seu interesse próprio.
Ela nunca me julgava mal (mesmo quando devia fazê-lo).
Eu podia me abrir com ela, dizer que estava cansada, que estava com preguiça,
que não queria continuar, que não gostava mais, que queria desistir...
Ela sempre me incentivava, mas nunca me julgava.
Ela nunca sairia de uma conversa dizendo que estava decepcionada com a minha falta de coragem,
ou que pensando no fracasso das minhas escolhas. Não!
Porque ela não acreditava nisso! Mesmo que eu falasse, mesmo que eu demonstrasse
fadiga, preguiça, derrota, despreparo...
Ela se recusava a acreditar. Ela me incentivava, me aconselhava,
fazia afirmações positivas sobre quem eu sou.
Ela me amava e torcia pelo meu sucesso.
Não precisava mais nada.
Hoje, estou vivendo uma situação na qual vivo um conflito emocional muito grande.
Preciso (na verdade, precisamos, meu marido e eu) resolver algumas situações práticas que envolvem questões emocionais e custos. Está muito difícil encontrar uma solução. Quem é de fora do meu círculo social, profissionais, aconselham-me a buscar ajuda em parentes e amigos. Tenho vergonha de dizer: já recorri a todos os meus parentes e amigos mais próximos. Todos estão vendo minha angústia e ninguém se dispõe a ajudar (na prática). Alguns se sensibilizam, escutam, sugerem, mas não se dispõem. Outros me criticam duramente, por antecipação, se eu escolher uma determinada opção para solução do meu problema.
Sentir-se sozinho.
Nada mais preciso para se testar a solidão do que precisar do comprometimento do outro.
Hoje, mais do que nunca, "se for dar trabalho, se for mexer na minha zona de conforto, procure outro, não a mim".
É assim: as pessoas são decepcionantes.
Não poder confiar em ninguém.
Não há quem não julgue. Não há quem possa me dar uma opinião, me sugerir algo de forma isenta, sem interesse próprio. O mundo é assim.
Eu sei que nem todas as mães são como descreverei, mas a minha era. E foi. E não existe mais.
Minha mãe era a única pessoa no mundo que me conhecia bem. Melhor do que eu mesma (era assim que eu pensava).
Se ela dizia que eu podia, eu acreditava. E conseguia.
Porque eu acreditava mais no que ela dizia sobre mim do que em mim, mesma.
E as crenças dela sobre mim eram as mais positivas, brilhantes e melhores possíveis!
Eu confiava nela. Ela nunca buscava seu interesse próprio.
Ela nunca me julgava mal (mesmo quando devia fazê-lo).
Eu podia me abrir com ela, dizer que estava cansada, que estava com preguiça,
que não queria continuar, que não gostava mais, que queria desistir...
Ela sempre me incentivava, mas nunca me julgava.
Ela nunca sairia de uma conversa dizendo que estava decepcionada com a minha falta de coragem,
ou que pensando no fracasso das minhas escolhas. Não!
Porque ela não acreditava nisso! Mesmo que eu falasse, mesmo que eu demonstrasse
fadiga, preguiça, derrota, despreparo...
Ela se recusava a acreditar. Ela me incentivava, me aconselhava,
fazia afirmações positivas sobre quem eu sou.
Ela me amava e torcia pelo meu sucesso.
Não precisava mais nada.
Hoje, estou vivendo uma situação na qual vivo um conflito emocional muito grande.
Preciso (na verdade, precisamos, meu marido e eu) resolver algumas situações práticas que envolvem questões emocionais e custos. Está muito difícil encontrar uma solução. Quem é de fora do meu círculo social, profissionais, aconselham-me a buscar ajuda em parentes e amigos. Tenho vergonha de dizer: já recorri a todos os meus parentes e amigos mais próximos. Todos estão vendo minha angústia e ninguém se dispõe a ajudar (na prática). Alguns se sensibilizam, escutam, sugerem, mas não se dispõem. Outros me criticam duramente, por antecipação, se eu escolher uma determinada opção para solução do meu problema.
Sentir-se sozinho.
Nada mais preciso para se testar a solidão do que precisar do comprometimento do outro.
Hoje, mais do que nunca, "se for dar trabalho, se for mexer na minha zona de conforto, procure outro, não a mim".
É assim: as pessoas são decepcionantes.
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